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Não, não é um segredo mirabolante, alguma fórmula secreta para felicidade eterna, nem muito menos a pretensão de ensinar qualquer coisa… É apenas uma trilha de bike em Indaiatuba-SP que passa por locais com muitas pedras… Ah, bom ! Olha se não tenho razão :

O tempo todo passávamos por pedras e mais pedras :

Fomos eu e meu amigo Zé Helder, violeiro dos “bão” e companheiro de muitas pedaladas. Olha ele na foto aí em cima, olhando para as pedras…

Saímos de Sampa lá pelas sete e meia, em direção à Indaiatuba, pela Bandeirantes.  Ao chegar, nos chamou a atenção o fato de que a cidade é bem simpática, “ajeitada”, como disse o Zé. Estacionamos no parque Ecológico, em frente à barraca do coco gelado. Por ser uma cidade grandinha, os trechos inicial e final de asfalto são longos, mas tudo bem… Essa trilha começa a surpreender justamente quando acaba o asfalto, e começam a aparecer as pedras. Muitas pequenas pedras, talvez decorrentes de chuvas de meteoritos em épocas distantes. Ou então cuspidas por vulcões milenares. Isso são só conjecturas, afinal eu não sou geólogo… Aliás, se tiver algum lendo, me corrija se estiver errado !

Não falei que era pedra a dar com pau ?? Ops, é pau, é pedra, é o fim do caminho ?? Não, mas por falar nisso,  a música “Águas de Março”, uma das obras primas de Tom Jobim, está fazendo aniversário : assim como eu, ela nasceu em 1972, e em 2012 completamos 40 anos ! Bom, mas eu ainda tenho uns meses pra entrar definitivamente nos “enta”…

Depois dessa pausa para assuntos natalícios, voltemos à trilha, onde de repente nos deparamos com uma árvore seca, cujos galhos pelados deram a impressão de braços gesticulando ao vento. Ou os cabelos da Medusa, como preferir. O fato é que ela tinha um quê de filme de terror. Veja você mesmo :

Agora, pensando em retrospecto, esse “climinha” de terror teria tudo a ver com um episódio inusitado que aconteceu depois…

Esse caminho das pedras culminou numa pedra que chama a atenção pelo fato de estar apoiada em cima de outras duas, como se Deus tivesse colocado com uma pinça gigante… Como será que essas pedras ficaram assim ???

Pedras, pedras e mais pedras… E cactos também !! Será que estamos no deserto ???

Estávamos no meio de uma descida quando apareceu uma entrada com essa placa :

Opa, fiquei curioso ! E como a trilha não era das mais longas, e ainda era cedo, essa curiosidade estava pedindo uma exploração.

No começo, uma escada feita de pedras me lembrou o livro/filme “O Senhor dos Anéis”, de tão íngreme.

Até que chegou a gruta. Eu imagino que, pelo nome, essa gruta devia ser esconderijo de negros na época da escravidão. As rochas estão apoiadas umas nas outras de um jeito que formam um abrigo natural. Olha a pinça gigante de Deus aí de novo !!!

Chegando, olha lá no fundo !

Chegou !

Bem legal, apesar das intervenções “arquitetônicas” humanas… Na minha modesta opinião de leigo, podia ter menos parede, menos tijolo… Mas quem sou eu para criticar ? O altar :

Achei singelo o vaso de flores desenhado na pedra… O altar em detalhes :

O mirante visto de trás, após dar a volta na pedra :

Mirante que achei desnecessário (a construção dessa “casinha”, quero dizer) e não mira muita coisa :

Mas tudo bem, gostei da gruta, apesar das energias estranhas que senti ali. Devem ser os “bafos” do passado triste desse lugar, que abrigava os pobres negros fugidos, talvez feridos, caçados. Você pode até não acreditar nesse papo de “energias”, mas o fato é que eu me senti diferente… Talvez eu estivesse pressentindo o que viria a seguir. Outra coisa que achei estranha, além dessas energias, foi o fato de um lugar turístico como esse estar deserto em pleno sábado de sol.

Continuando nosso caminho, chegamos ao Bairro da Parada do Quilombo, um lugarejo onde antigamente passava uma linha de trem, o trem que ia até Bauru. Paramos no bar local para abastecer o tanque de combustível com água gelada,delícia ! Assuntando com o dono do bar, fiquei sabendo que o estabelecimento já tinha 108 anos de existência (caraca !). O balcão, de madeira grossa, largo e comprido, junto com a arquitetura, comprovava a afirmação. Olha o Zé na foto, em frente ao bar centenário :

Ainda existe a construção da estação, com cara de restaurada :

A caixa d´água que abastecia as locomotivas :

Fico imaginando esse lugar há 50 anos atrás (os trens pararam de circular por ali em 1968, segundo o dono do bar), os trens passando, a efervescência comercial do lugar no seu auge, enfim, eu sou suspeito para falar, porque adoro trens e tudo que se relaciona a eles, mas devia ser bem legal. Olha a placa que os passageiros viam quando o trem parava nessa estação :

Saímos do bairro do Quilombo abastecidos, de água e de informação da história da região; é como eu sempre digo, pedalar é cultura !

Para reafirmar minha convicção no nome desse post e da trilha, apareceram mais pedras. Sim, pedras, muitas mais, a ponto de eu não ter mais saco de tirar fotos. A não ser dessa, que, pela forma, lembra várias coisas : uma vaca sentada, uma capivara, um rato gigante, um sapo, enfim, depende da imaginação do leitor.

Foi então que aconteceu o fato mais surpreendente dessa pedalada (e talvez de todas as pedaladas). Estávamos descendo por um trecho bem bonito, de mata fechada, com bastante sombra, naquelas horas em que eu penso que delícia que é pedalar, sentir esse vento no rosto, conhecer lugares novos, fazer atividade física, enfim, todas as razões pelas quais eu pedalo. Foi quando passamos por uma casa amarela do lado direito da estrada de onde, nesse exato momento, como se estivesse nos esperando, saiu uma senhora sorridente, com um copo na mão e respondendo ao nosso cumprimento de boa tarde, disse :  “- Boa tarde ! Querem um suquinho ??” Assim, de cara, nos oferecendo um suco. Sabe quando você fica até cerimonioso, com vergonha de aceitar ? Além disso, eu confesso que fiquei desconfiado. Diz o ditado que quando a esmola é muita o santo desconfia, não é ?? Em todos os meus mais de dez anos de pedaladas eu já me deparei com atitudes generosas e hospitaleiras, mas sempre depois de alguma conversa, algum preâmbulo… Nunca assim, na lata. Minha mineirice desconfiada gritou dentro de mim e eu respondi : “- Não, obrigado, estamos apenas de passagem !” E nos despedimos normalmente, continuando a descer. Foi quando, uns 300m à frente, passamos por uma casinha abandonada e em ruínas, sem telhado, onde os cactos estavam crescendo, feito cabelos numa cabeça. Imediatamente  parei, desci e comecei a tirar fotos, como sempre faço quando encontro alguma coisa digna de atenção, como era o caso. Foi quando comecei a ouvir uns gritos histéricos, vindos lá de cima, da casa. A princípio, não pensei que fosse conosco, até que o Zé me chamou a atenção, e eu me virei em direção aos gritos, e vi a mulher descendo a estrada correndo, o dedo em riste, e gritando : “Vocês não podem tirar foto da propriedade !! Não podem !!” Confesso que não entendi nada… Ainda há pouco, toda solícita, oferecendo suco, depois, por causa de uma foto sair gritando com a gente daquele jeito… A atitude mais certa talvez fosse esperar e argumentar com a velha, mas eu e o Zé resolvemos aproveitar a descida e sair dali o mais rápido possível; admito que fiquei com preguiça de argumentar com o que parecia um caso de uma pessoa bipolar. Depois de alguns quilômetros, já nos sentindo mais seguros, começamos a conjecturar sobre a mulher. E se ela , com o suco, estivesse querendo nos sedar, tipo boa-noite-cinderela, e fazer sabe-se lá o que com a gente… Outra possibilidade : a velha era um fantasma, a casa era abandonada, e nada do que nós vimos aconteceu… Ou então, mais uma boa : uma bruxa que se aproveita dos passantes para seus feitiços… Um bom enredo para um livro ou filme, mas no fundo, no fundo, na vida real, nada mais é do que um simples caso de ranzinzice aguda da tiazinha.  Olha o objeto da neura, a casa com cabelos de cactos :

Precisava tanto barulho por causa de umas ruínas ? Bem interessantes, mas ruínas…

A partir daí seguimos de volta até Indaiatuba ,no parque ecológico, onde tomamos um coco gelado delicioso, para repor as energias. A quilometragem total não foi alta, e a ascensão total também não. Foram 34.14 Km e 708 m de subida acumulada. Para o mapa e outras informações, veja : http://connect.garmin.com/activity/159559329

Uma coisa é certa : ninguém pode me proibir de tirar fotos numa estrada pública, né mess !!??? E lembre-se : se alguém um dia lhe prometer mostrar o caminho das pedras, não se anime tanto, pode ser apenas uma trilha de mountain bike !!