Quinto dia : No Caminho da Fé
Quando cheguei em Poços, liguei para meu amigo-padrinho-quase-irmão, o Adinan, porque eu tinha falado para ele que ficaria em sua casa. Mas casa de vó é casa de vó, e pensando bem mudei de idéia. Mas como ainda não conhecia a casa nova do Adinan e da Cristiane (também minha prima, coincidentemente), fui visitá-los. Bela casa, hein Adinan ??!! Gostei bastante, muito bom gosto o de vocês !
Voltei para a casa da Vó, onde pedimos uma pizza, comemos e ficamos eu e ela conversando na sala. Falamos sobre os parentes que eu já tinha visitado, sobre o passado, sobre os lugares que eu passei, até que ela falou que estava com sono e foi dormir. Foi quando fui visitar a “bat-caverna”, tipo um porão onde ficam as coleções de discos (de vinil), as coleções de HQs dos meus tios, além de muitos livros e curiosidades antigas. Fiquei lá até não aguentar mais de sono, lá pelas 23:00.
A noite foi muito bem dormida, e ao acordar a vó Rita já tinha até feito café… Tomei café com ela e levantei acampamento, ansioso pela pedalada. O começo foi passando pelo centro da cidade, o que inevitavelmente trouxe lembranças. Principalmente ao passar pela r. Agnelo Leite (uma travessa da av. João Pinheiro), onde ainda existe a casa que moramos quando eu era criança.
Quando a cidade começou a ficar para trás e a estrada virou terra (oba !) apareceu uma entrada à direita com um obstáculo :
Nessa hora eu fiquei sem saber o que fazer. Tinha três opções : entrar a direita ignorando a placa , voltar e mudar o caminho ou seguir a estrada de terra em frente… O problema é que eu não sabia onde ela sairia. A porteira de ferro estava trancada com cadeado, eu teria que pular para entrar a direita e seguir o caminho que tinha traçado. Confesso que fiquei com medo de haver algum segurança, ou câmeras de vigilância, e já estava quase voltando quando passou um motoqueiro. Minha intenção era perguntar onde sairia a estrada de terra, mas ele acabou me falando, sem eu perguntar, sobre a estrada da porteira. Me disse que os trilheiros costumam seguir por ali, ignorando a placa. Que ela está ali só para automóveis e caminhões. Oba ! Valeu ! Assim incentivado, pulei a porteira !
Aí começou a parte mais técnica de toda a viagem, com um singletrack meio fechado de mato, cheio de pedras, molhado de orvalho, o que somado ao frio da manhã em Poços de Caldas foi um fator agravante a mais. De repente entendi : essa estrada era uma antiga ferrovia, a julgar por essa ponte que atravessei.
Fato esse que ficou mais do que comprovado adiante, quando apareceu um trecho onde ainda existem trilhos…
Esse trecho fica às margens da represa do Bortolan, onde a família de um amigo de infância tinha uma casa e sempre convidava para um banho de piscina. Mais lembranças, Get Back Trip ! O singletrack aparece bem definido nessas fotos.
A partir daí passei por um trecho sem muitos atrativos, numa estrada bem movimentada de caminhões, que serve de acesso à CBA (Companhia Brasileira de Alumínio). Digno de nota foi que, por causa do hábito de cumprimentar os passantes, eu acabei cumprimentando uns 30 motoristas de caminhão ! Uma homenagem ao meu salvador no primeiro dia de viagem, o caminhoneiro Erasmo… Ele merece !(ver Get Back Trip Parte 1)
Foi então que, perto da estação Cascata, a paisagem começou a ficar interessante de novo.
Até que cheguei no bairro Cascata, onde existe uma antiga estação com o mesmo nome. A linha que passa por ali ainda está ativa para trens de carga, e vindo de Poços, esta é a estação antes da descida da serra para Águas da Prata.
Meu caminho pré traçado era por uma estrada de terra que saiu desse bairro e seguiu por um tempo paralelo à linha do trem, do outro lado da montanha, para, depois de algumas voltas, descer para Águas da Prata por uma descida vertiginosa com uma super vista, que no mapa do GPS estava marcada como Estrada do Deus-Me-Livre ! Foi um dos trechos mais bonitos da viagem, mas como estava bem nublado, não consegui tirar fotos boas…
Passando pelo bairro da Fonte Platina, cheguei em Águas da Prata. Parei na fonte para encher o cantil com a famosa água da Prata…
A estação da cidade :
Procurei a Sede do Caminho da Fé para pegar a credencial do peregrino, pois mesmo não sendo dessa vez eu quero terminar o caminho em outra ocasião. Como já eram 13:30 e eu teria uma serra para subir antes de chegar em Andradas, liguei para duas opções de lugar para ficar, uma no alto da serra, 10 Km antes, e uma já na cidade. Como as duas tinham vaga, deixei para decidir no caminho, de acordo com o desenvolvimento do pedal.
Liguei para o Hamilton, meu primo que trabalha em Águas da Prata e fui visitá-lo. Só lamentei o fato de não ter mais tempo para conversar com ele, um figura, de quem eu sempre gostei, desde criança.
Comecei então, o famoso Caminho da Fé, inspirado pelo Caminho de Santiago, que corta a Serra da Mantiqueira em direção à cidade de Aparecida do Norte. O caminho é todo marcado por setas amarelas, muito difícil se perder… Saindo de Águas da Prata, começa a subida da serra do Pico do Gavião, que não é tão íngreme, mas constante e longa. Em alguns lugares, além das setas amarelas em postes, mourões e outros, existem também placas de sinalização (patrocinadas por quem faz a propaganda; nesse caso, uma das empresas já mudou de nome, até…)
Esse foi um trecho bem bonito da viagem, pena que eu estava preocupado com a hora. Mas essa preocupação não me impediu de parar no lugar chamado “Ponte de Pedra” para umas fotos e um pequeno descanso. Pena que estava frio, sem sol, não tive ânimo para um banho…
Nesse ponto já eram quase 17:00, eu teria pouco tempo de claridade, e ainda faltavam uns 15 Km até o centro de Andradas, sendo que 10 Km seriam descida forte. Ainda por cima a neblina era espessa e estava bem baixa. Eu pensei : descida forte, no escuro, na neblina e no molhado, é tombo na certa… ! Decidi dar uma olhada na Pousada do Pico do Gavião (um dos lugares onde eu tinha ligado) e ver a “carinha” dela. Se agradasse eu ficaria.
A neblina, o lusco-fusco do anoitecer, o frio, todos foram fatores decisivos. A pousada não é credenciada do Caminho, apesar dele passar em frente a ela, mas o dono dá desconto para peregrinos. Já eram 17:30 da tarde/noite quando passei por ali, e ao bater os olhos não tive dúvidas : é aqui mesmo que eu fico ! Olha se eu não tinha razão :
Essa era a vista do meu quarto, na manhã seguinte. Agora a vista oposta :
Depois de um banho e um jantar maravilhoso, simples, mas bem servido, quente e variado, eu ainda tentei conversar um pouco com o dono da pousada, o Cesar, mas percebi que ele é uma pessoa de poucas palavras, então, aproveitando o sono e o cansaço, fui dormir bem cedo, antes da 22:00.
O total desse dia foi de 68 Km com 1650 m de subida acumulada. Um dos dias em que mais pedalei… Mais detalhes como o mapa, gráfico de altimetria e outros, em : http://connect.garmin.com/activity/185288373
Continua…