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Cheguei !! Consegui !!! 405 Km em 7 dias !!! Como diz o Rei, foram muitas emoções !!! Mas vamos por partes, que são muitas histórias para contar…

Primeiro dia : Perdido na escuridão !

Saí de Pouso Alegre exatamente às 6:00 da manhã. O sol ainda não tinha aparecido, e o frio cortava. Nessa de minimizar a sensação térmica eu descobri uma coisa : pra quem não está acostumado, a balaclava pode ser bem desconfortável. Mas, enfim, segui, parecendo um ladrão encapuzado (porém de capacete) em meio às brumas do alvorecer. O trecho inicial até Congonhal foi sem surpresas nem grandes esforços, já que tem poucas subidas. O mesmo não se pode dizer do trecho a seguir, a subida da serra, em direção à igreja de N. S. da  Obediência. Haja perna !! Com a mochila pesada nas costas, ainda mais !… Nesse ponto eu confesso que duvidei da minha capacidade de cumprir todo o percurso…. Depois de penosos 5Km, a recompensa !!! Lá no alto pude ver a nebulosidade ficando lá pra baixo e para trás e o dia lindo e azul começando a reinar. Um verdadeiro tapete de nuvens !

Senador José Bento avistada lá de cima :

Como já esperava, o caminho se apresentou cheio de subidas e descidas. A grande questão, no entanto, era se o traçado feito visualmente, pelo Google Earth, seria correspondente à realidade. Na maior parte do trajeto deu tudo certo, as estradas eram largas, bem batidas, sem entrar em porteiras ou atravessar pastos ou plantações.

Passei pelo bairro do Barreiro (Município de Ipuiúna), onde proseei com o tiozinho que varria a rua (de asfalto !). Pena que não tirei foto… Do velhinho não, mas do bairro tirei sim…

Depois de mais algumas subidas (óia as Ingrids !!!) e descidas, comecei a avistar o pico do Itacolomy, em toda sua beleza. Durante um bom tempo ele esteve ao alcance da visão, porque o caminho que tracei contornou a face sul em 180 graus. Foi um dos trechos mais bonitos desse dia e da viagem ! Algumas fotos :

Nesse ponto comecei a atravessar várias áreas de reflorestamento de eucaliptos (os famosos “Calipás”), mas continuava dando certo o traçado feito “a olho”. Passei por um aglomerado de casas (leia-se bairro) onde pedi água e conheci um grupo de meninos que logo começaram a perguntar mil coisas sobre a bike. Perguntei se podia fotografá-los. A mãe deles disse que eu podia tirar fotos se fosse “do bem”… Então tirei !

O dia passava, e por causa da quantidade de subidas e descidas, a pedalada não rendia muito. Já eram quase 16:00. Até que a distância percorrida no GPS começou a chegar perto da marca dos 70 Km. Como a estimativa até São Pedro de Caldas era de 85 Km (no máximo), eu achei que podia começar a me sentir em casa. Ainda mais quando , ao passar por uma plantação onde o milho estava sendo colhido, o caminhoneiro que esperava enquanto o caminhão era carregado me disse que eu estava a menos de 10 Km de distância de São Pedro. Os primos Maurício e Zica me esperavam com um jantar e uma cama boa, e eu já começava a pensar nisso tudo quando o inacreditável começou a acontecer numa velocidade estonteante.

O primeiro indício de algo errado foi quando o traçado do caminho no GPS começou a não coincidir com a realidade. O GPS apontava para um lado e a estrada ia para outro. Eu devia ter adivinhado que a partir daí as coisas começariam a não dar mais tão certo…Foi quando, ao passar por uma porteira (mau sinal) e chegar a uma propriedade, uma mulher com cara de poucos amigos me disse que eu estava no caminho errado ! Xi ! Agora danou-se !!!… Pedi para ela me explicar o caminho certo, e achei que tivesse entendido. Eu tive que voltar umas três subidas, o que me atrasou bastante. Nesse ponto resolvi ligar (aproveitando o sinal do celular) para avisar os primos para que não se preocupassem. O problema aí foi que eu achei que estava no caminho certo, e só me atrasaria um pouco. Ledo engano. Ao seguir a estrada que achei ser a certa, o sol já tinha se posto, e a pouca luminosidade se esvaía rapidamente.

De repente, fim da linha. A estrada acabou na beira de um rio, o GPS apagou, começou a chover, e aí eu disse pronto…! Tô perdido. Enquanto subia o que tinha descido achando que estava certo, eu liguei mais uma vez para o Maurício e a Zica, para ver se eles sabiam onde eu estava, mas os poucos pontos de referência que eu passei não foram suficientes. Minha ideia naquele momento era achar uma casa onde pudesse pedir informações. O problema é que chovia, estava escuro, o GPS apagado, eu não sabia para onde estava indo, não reconhecia a estrada, não achava mais nenhuma casa, nenhuma luz, nada. Comecei a pensar seriamente na possibilidade de ter que dormir por ali mesmo. Procurava algo que pudesse servir de abrigo, quando vi a luz ! Sim , parecia a luz do sol, mas era apenas um farol de caminhão. Me postei na frente dele, no meio da estrada, feito um maluco, agitando os braços e gritando até que parou. Ufa ! Pelo menos uma informação já seria a salvação da lavoura.

– Ué ! Pensei que você soubesse o caminho para São Pedro…!

Sem entender direito, respondi : – Eu também pensei que soubesse….

– Se você tivesse me perguntado eu te explicava, hora dessa você já tava lá !

Era o caminhoneiro que eu tinha encontrado antes, que só agora estava indo embora com o caminhão carregado ! Ele me disse que seria difícil chegar em São Pedro no escuro. Aí eu resolvi apelar para o resgate. Perguntei para onde ele ia, e diante da resposta eu tive que decidir rápido. Não via outra saída a não ser capitular e pedir carona. Erasmo (o nome do meu salvador) disse sim, e a questão para mim passou a ser como o caminhão levaria a bike. Ele me disse que tinha uma corda, e com grande perícia amarrou a bicicleta firmemente na traseira do caminhão. E já que ele estava carregado com 20 toneladas de milho, seria difícil correr naquelas estradas de terra.

Chegamos em Santa Rita de Caldas lá pelas 19:30, onde arranjei uma pousada e um rango, e no fim das contas salvamo-nos todos… Fico pensando no que teria acontecido se não fosse época da colheita do milho… Valeu Erasmo ! Preciso também agradecer os primos, pelo tanto que os deixei preocupados…

Quanto a chegar em São Pedro de Caldas, ficou mesmo para o almoço do dia seguinte… Mas isso é assunto para o próximo capítulo…

Até onde o GPS marcou, foram 79 Km com 2300 m (!) de subida acumulada. Só para comparar : numa pedalada que fiz a uns tempos atrás, que deu um total de 105 Km, em que fomos até a pedra do Navio, a subida acumulada deu os mesmos 2300 m ! (http://connect.garmin.com/activity/104646803)

Mais detalhes do primeiro dia da minha Get Back Trip em http://connect.garmin.com/activity/185284936

Continua no próximo post…