Terceiro dia : São tantas emoções !

O Hotel Campestre não é exatamente um cinco estrelas, mas aquela cama de casal só para mim e o sono de oito horas ininterruptas foram fundamentais para a continuação da viagem. Isso sem contar aquela pomada para assadura de bebê que eu recomendo. Foi tiro e queda. (veja post anterior)

Ao sair de Campestre, a minha intenção era pegar uma estrada de terra que meus avós usavam para, a cavalo, lá pelos idos de 1960, visitar a minha bisavó Teresa, chamada de estrada do “Brejo”. Para tanto eu indaguei de um senhor na padaria sobre esse caminho e ele confirmou a rota que eu havia previamente traçado e passado para o GPS. Depois de ter me perdido no primeiro dia, eu fiquei meio traumatizado e passei a confirmar tudo, sempre…

Passei pelo trevo da cidade, bem modernizado :

Na sequência entrei na tal estrada do Brejo, que no início passa por diversas propriedades da zona rural de Campestre. Apesar do nome, não vi brejo nenhum, e sim uma estrada larga e boa, com alguns poucos pontos de lama, bem tranquilos. Passei por uma fazenda com cara de bem antiga e pensei :  “Essa eles viam quando passavam por aqui em 1960” !

Até que a estrada encontrou a principal, que agora é de asfalto. Dessa estrada eu ouvi muitas vezes meu avô falar, quando dizia que suas terras ficavam perto de São Gonçalo, na estrada que vai para Divisa Nova. Divisa Nova, para mim, era como se fosse em outro planeta, e dista apenas 20 Km de São Gonçalo. Esse distrito, passagem obrigatória para chegar ao sítio do Vô, é chamado atualmente de São Gonçalinho, talvez para, numa era globalizada, não confundir com São Gonçalo do Sapucaí, cidade que nem fica tão perto assim… Na época do meu avô não precisava nada disso…

Quando cheguei em São Gonçalo as lembranças vieram, sem fazer força… A igrejinha, o coretinho, que na pequenez da infância eram bem maiores… Apesar das árvores terem crescido, ainda se parece com o que eu me lembro. Conversei com alguns senhores na praça que conheceram meu avô. Um deles nem sabia do seu falecimento, ocorrido há sete anos… Foi nesse ponto que a volta ao passado começou forte, e a bike se transformou numa máquina do tempo !

Da estrada não lembrei muita coisa, a não ser quando me aproximei da casa da Tia Zulmira. Nesse ponto o coração começou a disparar porque as coisas não mudaram quase nada por ali, em 30 anos. Ao me deparar com a casa igualzinha  a das minhas lembranças os olhos se encheram de água. A única diferença era a perspectiva, antes de criança, perto do chão, agora de adulto, do alto (!) dos meus quase quarenta…!

A garagem ao lado, a árvore na frente, a varanda (alpendre, que era como nós chamávamos), tudo igualzinho, há mais de trinta anos. Ao entrar na casa, também pude notar que nada mudou… O tempo passou, isso é inevitável de notar, seja na surdez da tia, seja no passar das gerações : No lugar do Tio Nesmy (que era o marido da Tia Zulmira, morto num acidente terrível na secadora de café), O Mauro, no papel do chefe da casa. O cultivo, colheita e secagem do café continuam sendo o sustento da família, atividades que já são exercidas pelo Marquinhos, meu primo, filho do Mauro, neto da Tia Zulmira. O ciclo da vida continua…

O café secando no terreiro, cheiroso, cheiro de infância…

Após o almoço (delicioso, caseiro) o Mauro me levou de carro para as antigas terras do meu avô, onde ainda existe a casa que era dele e da Vó. Confesso que não me lembrei muito, principalmente do entorno, que está bem diferente. A casa que eu tinha na lembrança era menor…

Passamos na casa da Madrinha Téia e do Tio Marcílio, mas eles não estavam, tinham acabado de ir para Poços de Caldas. Fomos então buscar a minha prima Patrícia que chegou numa kombi, vinda do trabalho em Divisa Nova. Desnecessário dizer que eu não a conhecia, e tive um grande prazer em conhecer e conversar com ela e sua filha Tainá, mais uma prima, que me encantou pela beleza e inteligência.

Aqui tenho que registrar uma falha no meu registro de viagem. As emoções foram tantas que eu acabei esquecendo de fotografar os parentes… Mas tudo bem, fazer o quê ? Só voltando lá para reparar essa falha…

Depois de me despedir de todos, colocar a mochila nas costas, colocar o capacete e as luvas, ao pegar a bike percebi que o pneu traseiro estava furado. Tirei tudo de novo para acessar o kit remendo, e depois de desistir de remendar e trocar a câmara de ar pela reserva (me arrependeria disso alguns dias depois), segui viagem voltando até São Gonçalo para pegar o asfalto em direção a Botelhos. Para evitar um pedaço do asfalto passei pelo meio da fazenda Sertãozinho (propriedade dos Marinho) onde fotografei esse jequitibá no meio do cafezal.

Pensei no Hélio Ziskind com o seu “Gigante da Floresta”, esse é o “Gigante do Cafezal” !!

Nesse ponto estava terminando mais um dia de viagem, com minha chegada em Botelhos, que foi a cidade mais movimentada em termos de visitas a parentes.

Cheguei na casa da Tia Donana, outra tia avó, de 94 anos e ainda bem lúcida, uma figurinha ela. Mas isso é assunto para o próximo post…

Esse foi o dia que menos pedalei, em termos de distância percorrida, num total de pouco mais de 40 Km com 800 m de subida acumulada. Mais detalhes em : http://connect.garmin.com/activity/185285372

Continua…

comentários
  1. valdomiro vieira disse:

    GRANDE amigo Lu, li, atentamente, seu diário de viagem, que maravilha, só os amantes do pedal, da natureza e das coisas simples e profundas ao mesmo tempo….conseguem entendem estas aventuras! Parabéns pela empreitada!!! Guando tiver um tempo leia o livro que indiquei: Brasília – Paraty – somando pernas para dividir impressões de Weimar Pettengil – Editora Thessaurus

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