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Não, não é um segredo mirabolante, alguma fórmula secreta para felicidade eterna, nem muito menos a pretensão de ensinar qualquer coisa… É apenas uma trilha de bike em Indaiatuba-SP que passa por locais com muitas pedras… Ah, bom ! Olha se não tenho razão :

O tempo todo passávamos por pedras e mais pedras :

Fomos eu e meu amigo Zé Helder, violeiro dos “bão” e companheiro de muitas pedaladas. Olha ele na foto aí em cima, olhando para as pedras…

Saímos de Sampa lá pelas sete e meia, em direção à Indaiatuba, pela Bandeirantes.  Ao chegar, nos chamou a atenção o fato de que a cidade é bem simpática, “ajeitada”, como disse o Zé. Estacionamos no parque Ecológico, em frente à barraca do coco gelado. Por ser uma cidade grandinha, os trechos inicial e final de asfalto são longos, mas tudo bem… Essa trilha começa a surpreender justamente quando acaba o asfalto, e começam a aparecer as pedras. Muitas pequenas pedras, talvez decorrentes de chuvas de meteoritos em épocas distantes. Ou então cuspidas por vulcões milenares. Isso são só conjecturas, afinal eu não sou geólogo… Aliás, se tiver algum lendo, me corrija se estiver errado !

Não falei que era pedra a dar com pau ?? Ops, é pau, é pedra, é o fim do caminho ?? Não, mas por falar nisso,  a música “Águas de Março”, uma das obras primas de Tom Jobim, está fazendo aniversário : assim como eu, ela nasceu em 1972, e em 2012 completamos 40 anos ! Bom, mas eu ainda tenho uns meses pra entrar definitivamente nos “enta”…

Depois dessa pausa para assuntos natalícios, voltemos à trilha, onde de repente nos deparamos com uma árvore seca, cujos galhos pelados deram a impressão de braços gesticulando ao vento. Ou os cabelos da Medusa, como preferir. O fato é que ela tinha um quê de filme de terror. Veja você mesmo :

Agora, pensando em retrospecto, esse “climinha” de terror teria tudo a ver com um episódio inusitado que aconteceu depois…

Esse caminho das pedras culminou numa pedra que chama a atenção pelo fato de estar apoiada em cima de outras duas, como se Deus tivesse colocado com uma pinça gigante… Como será que essas pedras ficaram assim ???

Pedras, pedras e mais pedras… E cactos também !! Será que estamos no deserto ???

Estávamos no meio de uma descida quando apareceu uma entrada com essa placa :

Opa, fiquei curioso ! E como a trilha não era das mais longas, e ainda era cedo, essa curiosidade estava pedindo uma exploração.

No começo, uma escada feita de pedras me lembrou o livro/filme “O Senhor dos Anéis”, de tão íngreme.

Até que chegou a gruta. Eu imagino que, pelo nome, essa gruta devia ser esconderijo de negros na época da escravidão. As rochas estão apoiadas umas nas outras de um jeito que formam um abrigo natural. Olha a pinça gigante de Deus aí de novo !!!

Chegando, olha lá no fundo !

Chegou !

Bem legal, apesar das intervenções “arquitetônicas” humanas… Na minha modesta opinião de leigo, podia ter menos parede, menos tijolo… Mas quem sou eu para criticar ? O altar :

Achei singelo o vaso de flores desenhado na pedra… O altar em detalhes :

O mirante visto de trás, após dar a volta na pedra :

Mirante que achei desnecessário (a construção dessa “casinha”, quero dizer) e não mira muita coisa :

Mas tudo bem, gostei da gruta, apesar das energias estranhas que senti ali. Devem ser os “bafos” do passado triste desse lugar, que abrigava os pobres negros fugidos, talvez feridos, caçados. Você pode até não acreditar nesse papo de “energias”, mas o fato é que eu me senti diferente… Talvez eu estivesse pressentindo o que viria a seguir. Outra coisa que achei estranha, além dessas energias, foi o fato de um lugar turístico como esse estar deserto em pleno sábado de sol.

Continuando nosso caminho, chegamos ao Bairro da Parada do Quilombo, um lugarejo onde antigamente passava uma linha de trem, o trem que ia até Bauru. Paramos no bar local para abastecer o tanque de combustível com água gelada,delícia ! Assuntando com o dono do bar, fiquei sabendo que o estabelecimento já tinha 108 anos de existência (caraca !). O balcão, de madeira grossa, largo e comprido, junto com a arquitetura, comprovava a afirmação. Olha o Zé na foto, em frente ao bar centenário :

Ainda existe a construção da estação, com cara de restaurada :

A caixa d´água que abastecia as locomotivas :

Fico imaginando esse lugar há 50 anos atrás (os trens pararam de circular por ali em 1968, segundo o dono do bar), os trens passando, a efervescência comercial do lugar no seu auge, enfim, eu sou suspeito para falar, porque adoro trens e tudo que se relaciona a eles, mas devia ser bem legal. Olha a placa que os passageiros viam quando o trem parava nessa estação :

Saímos do bairro do Quilombo abastecidos, de água e de informação da história da região; é como eu sempre digo, pedalar é cultura !

Para reafirmar minha convicção no nome desse post e da trilha, apareceram mais pedras. Sim, pedras, muitas mais, a ponto de eu não ter mais saco de tirar fotos. A não ser dessa, que, pela forma, lembra várias coisas : uma vaca sentada, uma capivara, um rato gigante, um sapo, enfim, depende da imaginação do leitor.

Foi então que aconteceu o fato mais surpreendente dessa pedalada (e talvez de todas as pedaladas). Estávamos descendo por um trecho bem bonito, de mata fechada, com bastante sombra, naquelas horas em que eu penso que delícia que é pedalar, sentir esse vento no rosto, conhecer lugares novos, fazer atividade física, enfim, todas as razões pelas quais eu pedalo. Foi quando passamos por uma casa amarela do lado direito da estrada de onde, nesse exato momento, como se estivesse nos esperando, saiu uma senhora sorridente, com um copo na mão e respondendo ao nosso cumprimento de boa tarde, disse :  “- Boa tarde ! Querem um suquinho ??” Assim, de cara, nos oferecendo um suco. Sabe quando você fica até cerimonioso, com vergonha de aceitar ? Além disso, eu confesso que fiquei desconfiado. Diz o ditado que quando a esmola é muita o santo desconfia, não é ?? Em todos os meus mais de dez anos de pedaladas eu já me deparei com atitudes generosas e hospitaleiras, mas sempre depois de alguma conversa, algum preâmbulo… Nunca assim, na lata. Minha mineirice desconfiada gritou dentro de mim e eu respondi : “- Não, obrigado, estamos apenas de passagem !” E nos despedimos normalmente, continuando a descer. Foi quando, uns 300m à frente, passamos por uma casinha abandonada e em ruínas, sem telhado, onde os cactos estavam crescendo, feito cabelos numa cabeça. Imediatamente  parei, desci e comecei a tirar fotos, como sempre faço quando encontro alguma coisa digna de atenção, como era o caso. Foi quando comecei a ouvir uns gritos histéricos, vindos lá de cima, da casa. A princípio, não pensei que fosse conosco, até que o Zé me chamou a atenção, e eu me virei em direção aos gritos, e vi a mulher descendo a estrada correndo, o dedo em riste, e gritando : “Vocês não podem tirar foto da propriedade !! Não podem !!” Confesso que não entendi nada… Ainda há pouco, toda solícita, oferecendo suco, depois, por causa de uma foto sair gritando com a gente daquele jeito… A atitude mais certa talvez fosse esperar e argumentar com a velha, mas eu e o Zé resolvemos aproveitar a descida e sair dali o mais rápido possível; admito que fiquei com preguiça de argumentar com o que parecia um caso de uma pessoa bipolar. Depois de alguns quilômetros, já nos sentindo mais seguros, começamos a conjecturar sobre a mulher. E se ela , com o suco, estivesse querendo nos sedar, tipo boa-noite-cinderela, e fazer sabe-se lá o que com a gente… Outra possibilidade : a velha era um fantasma, a casa era abandonada, e nada do que nós vimos aconteceu… Ou então, mais uma boa : uma bruxa que se aproveita dos passantes para seus feitiços… Um bom enredo para um livro ou filme, mas no fundo, no fundo, na vida real, nada mais é do que um simples caso de ranzinzice aguda da tiazinha.  Olha o objeto da neura, a casa com cabelos de cactos :

Precisava tanto barulho por causa de umas ruínas ? Bem interessantes, mas ruínas…

A partir daí seguimos de volta até Indaiatuba ,no parque ecológico, onde tomamos um coco gelado delicioso, para repor as energias. A quilometragem total não foi alta, e a ascensão total também não. Foram 34.14 Km e 708 m de subida acumulada. Para o mapa e outras informações, veja : http://connect.garmin.com/activity/159559329

Uma coisa é certa : ninguém pode me proibir de tirar fotos numa estrada pública, né mess !!??? E lembre-se : se alguém um dia lhe prometer mostrar o caminho das pedras, não se anime tanto, pode ser apenas uma trilha de mountain bike !!

Uma amiga querida costuma dizer que nós temos rodinhas nos pés… Eu tenho que concordar. Depois da última ida para Pouso Alegre eu tinha dito para mim mesmo que ficaríamos um tempo em SP, para dar uma economizada, etc,etc… Esse tempo, no fim das contas, se resumiu em apenas um fim de semana sem viajar.

A Rê trabalha com eventos (casamentos, batizados, bar mitvah, etc) e a nossa amiga gerente do Hotel Ponto de Luz em Joanópolis-SP, a Jorene (Jô para os íntimos) tem interesse de realizá-los no Hotel. Daí o convite : “- Você (e seu marido) não querem passar o final de semana aqui ? Daí a gente conversa sobre a realização de eventos…” Perfeito, por mim vamos lá, tô dentro !!!

O Ponto de Luz é um hotel diferente. É um spa holístico, dizem que o primeiro do Brasil. Não duvido, já que foi inaugurado há 18 anos atrás, numa época em que ninguém sabia o que significava holístico. Explico : holístico vem da palavra da língua inglesa whole (lê-se “roule”, daí holi, e, pronto,virou português !) que significa inteiro, no caso tratar o paciente por inteiro, Corpo, Mente, Espírito, e não só onde ele apresenta problemas. O hotel oferece um ambiente com natureza exuberante, muita paz e tranquilidade, no alto da Serra da Mantiqueira (1000 m), entre Joanópolis e Monte Verde, e dispõe de muitas terapias alternativas, como massagens, reiki, banhos com ervas, etc. Confira o site no link :

http://www.hotelpontodeluz.com.br/

Uma foto na chegada, acolhedora :

Saímos de São Paulo com sol, mas a chuva nos alcançou antes da chegada. Depois de um almoço leve e delicioso e uma meia hora de digestão, adivinha o que fui fazer ? Bingo pra quem falou pedal !! Mas na hora não foi tão fácil assim a decisão de pedalar. Pelo adiantado da hora (13:00) e pela chuvinha que caía, eu confesso que a preguiça gritou alto… Foi quando me deu um estalo e eu pensei, se não for eu vou me arrepender depois… No fim ainda bem que eu fui, porque a chuva não foi suficiente para estragar o passeio. E foi bem isso, um passeio de 18 Km até a divisa de estados SP/MG, na direção de Monte Verde, e resumindo, subida na ida e descida na volta. 500 m em 9Km, com refrescos (eu chamo de refrescos as descidinhas que às vezes aparecem, quando subo alguma serra). No final de uma subida, já em Minas, um entroncamento rural de três estradas, bem importantes : Uma vem de Monte Verde, outra da Cachoeira dos Pretos, e a que eu vinha, de Joanópolis.

No meio do caminho tinha uma pedra… (e umas árvores, e uma macumbinha, também)

Nesse ponto estava a 1300m de altitude, e mesmo com a chuva, a vista estava bonita…

Outra placa :

Nesse ponto resolvi voltar, já que não havia tempo hábil para chegar a lugar nenhum.  A descida na volta foi quase o tempo todo, tirando duas subidas (os já citados refrescos, que na volta viraram os “vilões”). Foi bom para um treino… No total, como já disse, 17,55 Km com 582 m de subida acumulada… Mais dados em :

http://connect.garmin.com/activity/157325684

À noite, depois do jantar temático espanhol, fomos assistir ao espetáculo flamenco de Ana Marzagão e convidados : música e dança, cultura e tradição ali na nossa frente, demais ! Fiquei hipnotizado pelos ritmos, bem diferentes, e toda hora as bailaoras faziam movimentos rítmicos inusitados,  de improviso, e com os sapatos batendo no tablado, criavam verdadeiros instrumentos de percussão que interagiam com o violão (guitarra,em espanhol, como elas fizeram questão de chamar) e com as vozes e palmas, fazendo parte da “banda”, por assim dizer. Até fiquei curioso como músico, já que nunca toquei música flamenca,e os compassos me pareceram “quebrados”.  Fui pesquisar. Ah, essa internet, é impressionante como dá para achar qualquer coisa na rede… Olha só que legal esse link, é um artigo de um violonista chamado Fabiano Carlos Zanin, em que o flamenco é analisado pelo lado musical.

http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica3/15_Fabiano_Zanin.pdf

Descobri que a música flamenca se baseia em um compasso de doze tempos, porém acentuados de maneira irregular. Num blues tradicional, por exemplo, o compasso de 12/8 é acentuado a cada três tempos : 1-2-3-1-2-3-1-2-3-1-2-3. Já no flamenco a colocação dos tempos fortes é irregular, pode ser 1-2-1-2-1-2-3-1-2-3-1-2 ou 1-2-3-1-2-3-1-2-1-2-1-2. Continua sendo um compasso de doze tempos, porém as acentuações irregulares dão a impressão de ser “quebrado”. Bem legal. Pra quem se interessar pela cultura da Andaluzia, o link para o site da bailaora e professora  Ana Marzagão:

http://anamarzagao.wordpress.com/

Fomos dormir cedo para um sábado : 23 h e estávamos deitados. Resultado, sete e meia da manhã eu estava de pé, e apesar da chuva do dia anterior, o céu estava azul, sem nuvens, lindo, lindo… Pedindo por um pedal !…

E lá fui eu, mesmo trajeto do dia anterior, só que com sol. Mais um treino de subida. Olha as fotos :

No dia anterior eu nem dei bola para essa escola rural. Com sol, o amarelo claro ficou luminoso…

A serra do Lopo (também conhecida como serra do Gigante Adormecido) ao fundo. Na verdade, apesar do nome diferente, já é o começo da Serra da Mantiqueira.

Já que eu falei em Serra da Mantiqueira :  Subida !

Olhai os lírios do campo…!

A mesma encruzilhada Joanópolis-Monte Verde-Cachoeira dos Pretos. Nuvens já se formavam no horizonte.

Nesse segundo “treino”, andei um pouco mais, pedalei no total 24,24 Km. Cheguei até esse ponto da estrada onde aparece o portal da foto abaixo. Mais detalhes do percurso no link : http://connect.garmin.com/activity/157325799

Na chegada de volta ao Ponto de Luz, uma foto do templo do Encontro :

Muito obrigado à Jô e a toda equipe do Ponto de Luz por nos proporcionar esse fim de semana maravilhoso, e espero que muitos casamentos rolem nesse lugar que é realmente um ponto de luz na serra da Mantiqueira.

Esse post, na verdade, já é de mais de um mês atrás… Foi logo na semana que eu comecei a escrever nesse blog que rolou a viagem para Caraguá onde eu tive a imensa sorte de conhecer a Trilha do Quilombo da Caçandoca. Daí, outras coisas aconteceram e acabou que o texto ficou guardado. Quando voltei a ler achei que já não tava legal e comecei tudo de novo.

Esse tudo começou com a Rê me dizendo que precisava ir para Caraguatatuba no final de semana para uma visita técnica de trabalho no local de um evento. Como eu já disse em um post anterior, qualquer viagem pode virar um pedal, e essa não seria diferente. Enquanto a Rê fazia a tal visita técnica eu poderia aproveitar para um pedal ao nível do mar. Bem que eu procurei trilhas no Garmin Connect, no Wikiloc, e não achei nenhuminha. Pensei : “…na hora eu vejo, posso perguntar para alguém…”

Saímos de SP no sábado, dia 11 de fevereiro, lá pelas sete da manhã de um dia chuvoso, totalmente “errado” para ir para o litoral, por assim dizer, já que praia combina com sol. Mas essa chuva seria fator crucial para mim em dois momentos da aventura que rolou naquele dia. Uma vez para o bem, outra para o mal.

Chegamos na Tabatinga por volta de 11 horas, com uma chuvinha insistente que caiu a viagem inteira, e fomos para a Pousada Port Louis, onde a Rê tinha feito reservas por telefone. Pousada super simpática, por sinal, bem pensada e super confortável, show de bola !

Pousada com cara de hotel ! Pena que não estava esse sol todo da foto… É que eu a peguei emprestada do site da pousada… Por falar nisso : http://www.portlouis.com.br/

Deixamos as malas e, na portaria, pronto para sair pedalando, eu ainda não sabia para onde ia… Resolvi perguntar para o atendente da recepção, que me indicou uma trilha que ele tinha feito a pé,mas  “achava que dava para fazer de bike…” Isso despertou o instinto da aventura e fiquei imediatamente decidido a fazer a tal trilha. Ainda mais quando o Rogério começou a discorrer sobre a história da região, sobre o fato de ali ter sido um dos primeiros quilombos brasileiros, dos negros que fugiam das fazendas ali perto… Uau ! Pronto, fisgado total !… Ele me explicou mais ou menos o caminho e lá fui eu…

O trecho inicial pelo asfalto da BR-101 passa pela divisa dos municípios de Caraguatatuba e Ubatuba e  logo em seguida entra por uma estrada de terra em direção à praia da Caçandoca, onde começa a trilha. Esse trecho já achei bem legal, com a mata nativa preservada no entorno da estrada, pelo menos depois da entrada do condomínio e do mosteiro. A visão do mar, para mim que não estou acostumado a pedalar no litoral, já foi um atrativo e tanto. Passei por uma peixaria chamada “Tião Romão” o que me chamou a atenção e me fez lembrar do meu querido avô (já falecido) Sebastião Vieira Romão. Igualinho !… Saudades do Vô Bastião…!  Olha a foto :

Tenho certeza que se essa peixaria fosse do meu avô ele mandaria fazer uma placa melhorzinha…

Até que cheguei na Praia da Caçandoca, bem bonita, com alguns poucos turistas de fim de semana chuvoso.

Escuro e chuvoso, mas garanto que estava um calor e um mormaço, e foi aí a primeira vez que pensei no fator chuva para o bem, já que se estivesse sol eu teria “cozinhado”… Depois de um rápido banho de mar, que ninguém é de ferro (ainda bem , senão enferrujava com tanta água), fui procurar a trilha, que não parecia visível. Depois de perguntar para um nativo eu entendi o porquê dessa invisibilidade : a trilha para a próxima praia, a Caçandoquinha, começa nas pedras, no fim da praia. Eu tive que carregar a bike nessa subida de pedra, bem íngreme e um pouco escorregadia.

O início da trilha é no canto esquerdo da foto, nessas pedras ! Depois de carregar a bike vem a recompensa, um singletrack dos sonhos :

Digo dos sonhos porque olha a vista que eu tinha enquanto pedalava por ele :

Até então eu achava que seria uma trilha fácil de seguir, e foi aí que eu dancei legal… A partir da Praia da Caçandoquinha eu protagonizei uma comédia de erros que, no final, me fez não terminar essa trilha e não conhecer as praias que viriam : praia do Simão, saco da Banana, e outras. O primeiro erro foi na saída da Caçandoquinha, eu peguei o caminho errado e fui sair numa ponta, onde encontrei um pescador, que me avisou do erro. Voltei. Mas valeu a pena, pois essa ponta era bem bonita.

Lá tinha uma pedra que parecia a janela da casa dos Flintstones…

Na Caçandoquinha achei a pinguela que o pescador tinha falado e me animei de novo, mas por pouco tempo. Depois de subir muito e descer muito, subir e descer de novo, por uma trilha linda em meio a mata atlântica nativa preservada, entremeada por bananeiras, goiabeiras e jaqueiras, apareceu uma encruzilhada. Nessa até que dava para acertar, porque andei um pouco para a direita e cheguei a uma casa. Aliás, aqui deu pra perceber um resquício da época que ali era um quilombo, o fato de que as casas são bem escondidas no meio da vegetação, talvez para melhor escondê-las de perseguidores… Voltei e peguei a da esquerda.

Na próxima encruzilhada eu pensei : “- o raciocínio deve ser o mesmo já que essa trilha margeia o litoral, à direita deve ser outra casa, o certo deve ser à esquerda de novo…”  Andei uns 800 m e cheguei em outra ponta, com uma casa e duas menininhas brincando na porta, que me disseram, com as vozes bem agudas :  “- Você errou !!!” Eu disse que era uma comédia de erros… Ok, voltei mais uma vez. Subindo. Muito.

Já no caminho certo, mas com a hora avançando, cheguei num trecho de subida com muuuuitas pedras, impedalável, e depois de vários trechos empurrando a bike eu confesso que já estava cansado. Comecei a repensar o percurso. Minha idéia inicial era fazer a volta completa e sair na praia da Tabatinga novamente, fechando o círculo. Porém, já eram 16 h, eu não conhecia o caminho, fiquei com medo de errar nas próximas encruzilhadas, resolvi voltar…

Foi aí que o fator chuva mostrou seu lado mau : nas descidas monsters, cheias de pedras e com o caminho todo em singletrack, teve uma hora que eu quase caí. As duas rodas patinaram, escorregaram, eu comecei a ganhar velocidade, foi aí que eu pensei, tô lascado !… A minha sorte foi que apareceu um trecho cheio de folhas, deu uma certa aderência, eu consegui diminuir a velocidade e retomei o controle da bike. Ufa !!! Por pouco.

Ainda teve mais uma emoçãozinha no final, quando estava chegando na Caçandoca, a maré tinha subido… A passagem pela praia estava com água na cintura ! Mais uma vez tive sorte, e tinha um cara que me ajudou com a bike na descida da pedra… Ufa, de novo !!

Daí em diante foi tranquilo até a pousada, onde eu e a Rê tomamos um bom banho de piscina, apreciando uma cervejinha  e uma porção de lulas a dorê !! Bela recompensa depois de tudo !!

No dia seguinte acordamos cedo e após o café-da-manhã fui com a Rê em mais uma visita técnica, em seguida voltamos para São Paulo. Super final de semana !

A trilha ficou com aquele gostinho de inconclusa, o que por um lado é bom, instiga a voltar para completar.

Depois que cheguei em casa fui dar uma pesquisada sobre o Quilombo da Caçandoca, já que aguçou a curiosidade. Pedal também é Cultura, História e Informação !! Olha só os links do que eu achei sobre o assunto :

http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/brasil/sp/litoral_norte/cacandoca/cacandoca_intro.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quilombo_Ca%C3%A7andoca

http://www.maranduba.com.br/praiadacacandoca.htm

Para o mapa com as voltas erradas que eu dei, altimetria, distância, e outros dados sobre o percurso, veja :

http://connect.garmin.com/activity/149219410

Paraibuna é uma cidade bem simpática. Pequena e pacata, tem cara de ser bem antiga, e por sorte (ou bom senso, ou os dois…) tem algumas construções antigas preservadas. Fica logo no começo da rodovia dos Tamoios, a pouco mais de 20 km de São José dos Campos. Fui para lá no último domingo com meu amigo Jota Gê, para mais um pedal.

Ao estacionar o carro na praça principal, a igreja de azulejos impressiona pela beleza e pelo colorido, azul e branco. Chegamos enquanto rolava a missa, a praça estava lotada, quase não tinha lugar para parar, mas repare, eu disse quase… Peguei a última vaga da praça. O dia estava indeciso, não sabia se fazia sol ou se nublava, a previsão dizia chuva no fim da tarde. Até aquele momento o sol brilhava timidamente, mas havia nuvens. Esse era um dado crucial, pois eu já tinha feito essa mesma trilha, porém num dia chuvoso, o que fez com que não houvesse vista no mirante, e sim muita neblina.

O começo, pelo asfalto da Tamoios, rolou sem sobressaltos. Até que entra na estrada de terra e começa a subir, a princípio levemente, enquanto vamos afundando no vale, mas ao chegar no fundo, cercado de montanhas, você se convence de que só resta subir… E que subida : 450 metros em 6 km, com intervalo para foto na metade.

Na metade da subida. Ao fundo a represa de Paraibuna

Depois dessa foto, ainda subimos mais um tanto, e a partir desse trecho entramos numa fazenda de reflorestamento (Eh, Calipá !!), chamada Fazenda das Antas. Por conta da época das chuvas, deduzo, a estrada estava cheia de cascalho, difícil para as bikes, porque as pedras eram grandes, mas subimos sem problemas.

Até que chegamos no mirante, com o sol ardendo (que logo depois foi encoberto por uma nuvem) e a expectativa da vista lá de cima, que foi perfeitamente recompensada. Do alto de 1200 m , o mirante oferece uns 200 graus de visão de toda a região, bem bonita por sinal, tendo ao fundo a grande represa de Paraibuna.

Mais uma, agora sem eu para atrapalhar :

Lá no alto tem uma cruz :

Enfim, eu não tinha visto nada disso quando fiz a trilha da outra vez. Para comparar, uma foto da mesma cruz, na outra nebulosa vez :

Não se via nada ! Dessa vez valeu a pena toda aquela subida !!! Pensando bem, da outra vez também !!!!! Passamos pela Igreja do Bairro dos Remédios descendo um pouco, mas ainda no alto :

Foi então que começaram as descidas, bem difíceis, mais uma vez por causa das pedras monstras; o Jota chegou a tomar um capote, deu uma ralada, mas não foi nada (ainda bem !!). Mas mais uma vez compensou, pois olha a visão que tivemos na metade da descida :

Gostei bastante dessa foto, e esse lugar com esse céu azul que abriu ficou bem lindo… Mais uma comparação, não resisto. Da outra vez estava assim :

Nem se via o alto do morro…

Ao terminarmos de descer, passamos por alguns bairros e pontes até encontrarmos com a Tamoios novamente e por ela retornamos a Paraibuna. No total foram 40 km de pedal com 1000m de subida acumulada. E a chuva da previsão, no fim, nem veio…

Detalhes como mapa, altimetria, velocidade média em : http://connect.garmin.com/activity/155170734

Nesse último fim de semana fui visitar meus pais, que moram em Pouso Alegre – MG, aproveitando que eles fizeram 41 anos de casados no último dia 20. Parabéns ao dois ! Nessas ocasiões sempre tento arranjar uma gig (na gíria musical, trabalho, show com cachê) para unir o útil (pagar a gasolina) ao agradável (visitar os pais).

Fui tocar no República bar, talvez o lugar onde o som começa mais tarde do planeta (começa às 2 da manhã !), e é claro que termina tarde também… Nesse dia acabou às 5 da manhã… Mas tudo bem, dá pra chegar em casa e tomar o café da manhã com a D. Rosa (mamãe), que acorda invariavelmente à seis da manhã. Faça chuva ou sol, horário normal ou de verão, seis horas da manhã e lá está ela, abrindo a porta para entrarem os gatos… Mas também, ela vai dormir todo dia invariavelmente às dez da noite, então certa está ela que dorme oito horas toda noite. Enfim, já eram sete da manhã de sábado quando fui dormir.

Acordei tarde, claro, lá pelas 15h, com aquela preguiça… Resolvi dar uma pedalada pra espantar a pasmaceira, mas foi curta, só 18 km… Fui lá pros lados do bairro Belo Horizonte, uma estrada de terra que margeia a linha do trem, que até uns anos atrás ainda tinha um trem turístico, mas hoje está abandonada, e em certos lugares, soterrada por mato ou por terra, o que, confesso, me deixou triste…

Esse lugar merece um parágrafo, pois foi onde tomei gosto pela aventura de bike. Há mais de dez anos, eu tinha uma Caloi Aspen Sport de 21 marchas (empty suspension, como diz o Urso) e fui pedalar por essa estrada num dia chuvoso. Meus pais moravam em Pouso Alegre há pouco tempo, então era meio uma exploração das redondezas. Como sempre fui fissurado por trens e afins, ao me deparar com a linha fiquei animadíssimo e fui pedalando ora pela linha do trem, ora pela estrada de terra. O porém é que essa estrada de terra, por causa da chuva, estava um mar de lama, e essa lama começou a grudar nos pneus, travando as duas rodas… Resumindo, eu fiquei inteiro sujo de barro e molhado de chuva, mas fiquei me sentindo uma criança de novo,com a alma leve e acho que foi aí que o bichinho da aventura me pegou, pois a partir disso não parei mais de pedalar.

Como sempre acontece quando estou pedalando, fiquei pensando em como as coisas são : há mais de dez anos esse lugar era o máximo da exploração, da aventura, hoje, é só uma estrada que liga o bairro Belo Horizonte à Fernão Dias, que eu conheço como a palma da mão… Ela continua lá, quem mudou fui eu : já pedalei mais de 30.000 km desde então, é claro que a bagagem da experiência aumentou. Aliás, acho que 30.000 km é pouco, pois só em 2011 foram mais de 6.000….

Enfim, acho que é por isso que eu pedalo : sempre em busca dessa sensação de explorador, de aventureiro, e com os horizontes cada vez maiores. E vamo que vamo, por falar nisso, qual é a próxima aventura ??

Estrada do Belo Horizonte vista da "árvore"

P.S. – Nesses mais de dez anos de pedaladas por essa estrada, eu acabei “adotando” uma árvore que é a única no alto do morro, e já foi até palco de um piquenique da turma, com direito a poesia da Adélia Prado, violão e cantoria em um autêntico sarau ao ar livre. Vou até colocar uma foto dela, abaixo.

A Árvore

Link do Garmin Connect para esse passeio (com mapa e outros dados) :

http://connect.garmin.com/activity/153199504

Pedalar é  um negócio que vicia.  Acho que a gente acaba ficando dependente das substâncias que nosso corpo produz naturalmente durante o exercício físico, as endorfinas e outras… No meu caso eu sou viciado em outra coisa inerente às pedaladas : os lugares bonitos por onde passo. Não consigo pedalar sempre no mesmo lugar, estou sempre à procura de novos lugares onde ir… Por isso sempre tento encaixar uma pedalada nas viagens que faço com a Rê, minha esposa e querida.

Foi o que eu fiz nesse Carnaval : Fomos à Pedralva (MG) visitar os amigos e dar os parabéns para o Diovani, e de quebra ainda curtimos um ótimo carnaval de rua, com marchinhas tocadas por instrumentos de sopro (4 sax, 4 trompetes, 4 trombones) e percussão (caixa e surdo), no melhor estilo dos carnavais de outrora… E para unir o agradável ao agradável, nada melhor que um pedal…

Já fazia tempo que eu queria subir a estrada que sai de Piranguçu em direção à Campos do Jordão/Pedra do Baú/São Bento do Sapucaí, e já que a ideia era ir de Pedralva para Gonçalves, pronto !… A Rê me pegaria em São Bento e seguiríamos pra Gonça…

E foi o que aconteceu. Saí de Pedralva lá pelas 8 da manhã, depois de uma boa noite de sono na casa da Ana (valeu, querida !) e um café da manhã na padaria. Fui em direção ao Pedrão (o bairro e a pedra), com o sol ainda frio e tímido, mas sem nuvens e com a promessa de um dia quente e azul… Pra chegar no bairro do Pedrão, uma subida light, eu diria… Eu só pensava :   – Essa é fichinha perto da que vem…! Depois uma descida também light, e começou a reta em direção a Itajubá. Esse caminho era o caminho do trem, daí o porque de ser uma reta com quase nenhuma inclinação…

Pedrão

Outro ângulo

Cheguei em Itajubá antes das onze da manhã (!) e depois de uma parada para um repositor e uma calibrada na água segui em direção à Piranguçu. A estrada de asfalto não teve surpresas nem percalços, exceto o sol que estava inclemente e castigou com seu calor. Em Piranguçu nem parei, ansioso pelo desafio que viria.

Acho que quando a gente fica pensando muito em uma coisa, meio que preparando-se psicologicamente para aquilo, quando chega a hora H ela nunca é do tamanho esperado, sempre menor… Foi o caso dessa vez, apesar de tudo.

A serra a ser vencidaA subida, com seus 10 Km  ininterruptos e 600 m de ascensão, realmente é dura, mas é totalmente pedalável e compensa pelo visual que vai ficando pra trás… O observatório de Brasópolis, à direita, ficou visível em grande parte da subida, que também proporcionava vistas bonitas à frente. Até que chega a Vila Maria, com sua represa a 1500 m de altitude. Foi quando eu pensei : “O pior já passou !…” E tinha passado mesmo… Uma coisa me chamou a atenção : apesar da quilometragem percorrida até ali (65 Km) eu não estava acabado, ainda tinha gás… Fiz um lanche rápido e segui.

Depois de um trecho de altiplano, eu cheguei na estrada de asfalto que liga São Bento ao Paiol Grande e a Pedra do Baú, e foi onde eu tive a ideia (errada) de que tinham acabado as subidas. Ledo engano, quem disse que no asfalto não tem subida forte ?? Encontrei com uma “amiga”, uma cobra cascavel bem no meio do asfalto que quase foi atropelada por um carro, consegui tirar uma foto.

Finalmente, o Nirvana : só descida até São Bento ! E que descida ! Apesar do asfalto, curvas perigosíssimas e fechadíssimas, freios super solicitados, deu até cheiro de queimado… A estrada é bem linda, bem fechada de mata, cachoeiras pelo caminho, enfim, vale a pena.

A vista da Pedra do Baú no final foi o fechamento com chave de ouro de mais uma viagem bem sucedida de bike !! Foram 96,28 km percorridos, subida acumulada total de 1803 m. Não é bolinho !!!

De uma coisa eu sei : esse é um vício dos mais saudáveis e que proporciona as melhores viagens, literalmente falando !!!

Mais detalhes como altimetria, mapa e outros estão na página do Garmin Connect :                               http://connect.garmin.com/activity/151762984
Até a próxima !!